TIFF Pamela Anderson em The Last Showgirl (Crédito: TIFF)TIFF

O mais recente filme de Gia Coppola é um drama envolvente e simpático sobre as dançarinas de Las Vegas, com “personagens bem desenhados” e atuações excepcionais de Jamie Lee Curtis e Pamela Anderson.

Pamela Anderson é uma revelação e Jamie Lee Curtis é engraçado e comovente no pungente The Last Showgirl, de Gia Coppola, ambientado em Las Vegas. Anderson interpreta Shelley, uma dançarina que está na mesma revista há 30 anos e acaba de saber que o show está fechando. Ela não perdeu apenas um emprego que adorava, em uma idade em que é improvável que consiga outro igual; ela perdeu sua própria identidade.

Em um papel coadjuvante, Curtis é sua amiga, Annette, que já foi showgirl e agora está pendurada como garçonete de coquetéis no mesmo clube. Esse não é um trabalho ideal para alguém como ela, com um problema de jogo. Embora Las Vegas seja conhecida pelo brilho, a falta de vaidade de Anderson e Curtis nos papéis está entre as características mais poderosas do filme. Coppola descreve suas vidas com simpatia, mas também com honestidade lúcida sobre os sonhos que nunca alcançaram e a juventude que é impossível de recuperar.

A devastação discreta que Anderson capturou é o verdadeiro triunfo da atuação

Shelley ainda é linda, mas quando a vemos pela primeira vez, fazendo um teste para um novo emprego, a câmera olha para cima para capturar seu queixo relaxado. Usando lantejoulas, penas e toneladas de maquiagem no palco, Shelley fora do palco está de cara limpa e se parece com qualquer outra pessoa no supermercado. Durante todo o filme, Anderson adota uma voz de boneca que faz maravilhas para transmitir os sonhos de menina que Shelley nunca abandonou. Annette parece uma caricatura de uma mulher durona, com um corte de cabelo desgrenhado, um bronzeado artificial horrível e batom fosco. Curtis a interpreta como uma mulher com total confiança em quem ela é.

Com um uso sofisticado do ponto de vista, o filme nos permite ver Las Vegas da maneira romantizada que Shelley faz, ainda brilhando. A cinematografia de Autumn Durald Arkapaw é suave e bonita. Não há vistas brilhantes da faixa de neon de Vegas. Vemos Shelley no camarim bem iluminado ou correndo para o palco com as outras showgirls em seus trajes elaborados. Mas também vemos, mais claramente do que Shelley, que seus cocares e penas de strass pertencem a um show que se tornou, como diz um dançarino mais jovem, “um dinossauro”.

Alguns personagens bem desenhados, incluindo duas jovens showgirls, ajudam a revelar o quão sonhadoramente irrealista Shelley é. Kiernan Shipka interpreta Jodie, que tem 19 anos e pensa em sua dança como uma brincadeira. Brenda Song é Marianne, já endurecida, que diz: “É um trabalho. E paga dólares americanos.” Shelley continua de olhos arregalados, insistindo que seu show, chamado Le Razzle Dazzle, importa e tem uma herança que remonta ao cabaré Lido em Paris. “Ninguém se importa”, Marianne diz a ela. O Razzle Dazzle está sendo substituído por um circo sexy, que, como vemos em uma cena cômica, inclui uma stripper que também gira pratos.

Billie Lourd é dura e comovente como Hannah, a filha hostil de Shelley, em idade universitária, a quem ela frequentemente negligenciava quando criança e não via há um ano. Ela aceita a oferta de Shelley para ver a revista, depois vai aos bastidores e a chama de “show de nudismo idiota” e “lixo sem graça”. Lourd deixa claro que Hannah está magoada, não maliciosa.

Gia Coppola tem um verdadeiro olhar de artista e seu próprio estilo rico e distinto

Hannah não está errada sobre o show. Mas esse show significa tudo para Shelley. O delicado equilíbrio do filme entre essas duas verdades funciona porque Anderson incorpora sua personagem com um sentimento tão genuíno. Ela finalmente tem uma grande cena de isca para o Oscar em que ela soluça e rasga seus figurinos. Mas a devastação discreta que ela capturou antes disso é o verdadeiro triunfo da atuação. Os atores compensam um roteiro que muitas vezes é muito direto. Shelley adora “se sentir vista, se sentir bonita” no palco, ela diz, explicando demais.

A Última Showgirl

Elenco: Pamela Anderson, Jamie Lee Curtis, Kiernan Shipka, Dave Bautista, Billie Lourd

O estilo de Coppola é atmosférico, como em seus dois filmes anteriores. Ainda mais do que com a maioria dos diretores, essa abordagem impressionista pode não agradar a todos. Palo Alto (2013) foi uma visão nitidamente observada de estudantes do ensino médio, e Mainstream (2020) foi uma bagunça ambiciosa sobre a fama na internet, que se tornou a coisa superficial que supostamente satirizava. The Last Showgirl tem mais um enredo, mas também depende de imagens e cenas que não estão conectadas ao enredo, mas acrescentam grande profundidade. Annette dança sozinha no clube, perto das mesas de jogo, posando como a showgirl que costumava ser. Mas ninguém presta atenção. Ela parece boba em seu uniforme de coquetel, um casaco vermelho e chapéu que parece uma versão de um carregador de malas dos anos 1940. Mas Curtis faz disso uma expressão comovente de sua personagem, uma tentativa triste de recapturar – mesmo que apenas por um minuto – a juventude e a atenção que costumavam ser dela.

Muitas informações fora da tela se infiltram neste filme, incluindo a imagem recém-polida de Anderson. Ela já foi a garota-propaganda de Baywatch. Mas no ano passado ela ganhou elogios pelo documentário da Netflix Pamela: A Love Story, e foi viral por comparecer à Paris Fashion Week sem maquiagem, um visual que encontra eco aqui.

E Coppola – neta de Francis e sobrinha de Sofia – fez este filme com uma série de outros membros da família. Jason Schwartzman, seu primo, tem um papel pequeno, mas importante, como diretor para o qual Shelley faz testes. Seu irmão, Robert Schwartzman, é um dos produtores. A roteirista, Kate Gersten (uma bem-sucedida escritora e dramaturga de televisão) é casada com outro primo. A mãe de Coppola, Jacqui Getty, desenhou os figurinos. Ela vem com todas as vantagens de um bebê nepo, mas The Last Showgirl prova que Gia Coppola tem um verdadeiro olhar de artista e seu próprio estilo rico e distinto.



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