Sam diz que seu pai não sabia que ele estava infectado com HIV há muitos anos.
Gary, sem querer, passou o vírus para sua esposa Lesley. Mais tarde, ela deu à luz uma filha, Abbey, que nasceu HIV+ e morreu com apenas quatro meses de idade.
Lesley engravidou novamente e em 1992 Sam chegou, dessa vez com teste negativo para HIV.
Mas apenas dois anos depois, Lesley morreu de uma doença relacionada à Aids, seguida apenas um ano depois por seu marido.
“O triste é que eu literalmente não tenho lembranças deles, só um punhado de fotos”, diz Sam. “É aquela sensação constante de tristeza, de se perguntar como teria sido crescer.”
Sam foi criado pelos avós, que inicialmente lhe contaram que sua mãe e seu pai haviam morrido de câncer e derrame.
Ele só começou a descobrir o que realmente aconteceu no início da adolescência, embora o estigma em torno da Aids o tenha mantido em segredo, pois, segundo ele, “os adolescentes podem ser maus”.
“Sempre sofri com ansiedade e depressão. Se você perde sua mãe e seu pai tão jovem, isso vai te deixar ansioso”, ele diz.
“Mas depois, mais tarde na vida, descobri o porquê e isso só aumentou a agonia.”
Sam é uma das centenas de crianças que perderam os pais no escândalo. Até o momento, nenhuma recebeu compensação do governo.
No total, mais de 30.000 pacientes do NHS foram infectados com HIV e hepatite C entre 1970 e 1991 por meio de produtos sanguíneos contaminados, como Fatores VIII e IX, ou transfusões de sangue após cirurgia, tratamento ou parto.
Em outros países – da França ao Japão – investigações sobre o desastre médico foram concluídas há muitos anos. Em alguns casos, acusações criminais foram movidas contra médicos, políticos e outras autoridades.
No Reino Unido, os ativistas dizem que o escândalo nunca teve o mesmo nível de atenção.
Um inquérito privado em 2009, financiado inteiramente por doações, não tinha poderes reais, enquanto uma investigação escocesa separada em 2015 foi rotulada de “branqueamento” pelas vítimas e suas famílias.
Em 2017, após pressão política, a então primeira-ministra Theresa May ordenou um inquérito público em todo o Reino Unido.
Liderado pelo ex-juiz do tribunal superior, Sir Brian Langstaff, ele tinha o poder de obrigar testemunhas a prestar depoimento sob juramento e ordenar a divulgação de documentos.
Após uma série de atrasos, seu relatório final deve ser entregue em 20 de maio.