Uma das habilidades intrigantes da mente humana é o devaneio, quando a mente vagueia em pensamentos espontâneos, fantasias e cenários, muitas vezes sem esforço consciente, permitindo que a criatividade e a reflexão fluam livremente.

Em um novo estudo publicado em Fronteiras da Neurociência HumanaPesquisadores da Universidade do Arizona usaram tecnologia de ultrassom de baixa intensidade para alterar de forma não invasiva uma região do cérebro associada a atividades como devaneio, recordação de memórias e visualização do futuro. Eles descobriram que a técnica pode, em última análise, aumentar a atenção plena, marcando um grande avanço no campo da neurociência.

Os pesquisadores usaram uma tecnologia de ultrassom de baixa intensidade chamada ultrassom transcraniano focalizado ou TFUS para alterar a rede de modo padrão do cérebro, um sistema de áreas cerebrais conectadas que são especialmente ativas durante atividades como devaneios.

“Somos os primeiros a mostrar que a rede de modo padrão pode ser direcionada diretamente e modulada de forma não invasiva”, disse o principal autor do estudo, Brian Lord, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Psicologia da Universidade do Arizona.

Uma área da rede de modo padrão, o córtex cingulado posterior, foi implicada como um jogador importante em como a mente se apega às experiências, disse Lord, que faz parte do Science Enhanced Mindfulness Lab, ou SEMA Lab, no Center for Consciousness Studies da universidade. A rede de modo padrão é ativa quando as pessoas se envolvem em introspecção ou deixam suas mentes vagarem, talvez se incorporando a uma história, relembrando memórias passadas ou planejando cenários futuros.

“É assim que formamos narrativas sobre nós mesmos”, disse Lord.

Embora essa narrativa seja natural e importante para obter um senso coerente de si mesmo, ela também pode impedir as pessoas de estarem presentes no momento, disse Lord. Por exemplo, quando alguém está tentando meditar, isso pode levar à ruminação e ao pensamento negativo.

Para aumentar a atenção plena e ajudar as pessoas a se envolverem mais com o momento atual, a equipe de Lord usou o TFUS, uma ferramenta que pode estimular áreas específicas do cérebro de forma não invasiva com precisão milimétrica.

Ao contrário de outros métodos de estimulação cerebral não invasivos, como a estimulação elétrica transcraniana e a estimulação magnética transcraniana, o TFUS pode penetrar abaixo do córtex, a camada mais externa do cérebro. Apenas cinco minutos de estimulação podem induzir efeitos significativos.

O experimento envolveu 30 participantes que receberam TFUS no córtex cingulado posterior da rede de modo padrão do cérebro. Os pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética funcional, ou fMRI, para observar mudanças na atividade cerebral. Os participantes foram solicitados a relatar seus sentimentos e experiências antes e depois do tratamento com TFUS.

O estudo descobriu que o TFUS reduziu a conectividade do cérebro dentro da rede do modo padrão e afetou a atenção plena e as experiências subjetivas dos participantes, como seu senso de identidade e percepção do tempo.

“A melhor parte é que você está usando uma quantidade mínima de energia para alterar a atividade cerebral. Você está apenas dando um empurrãozinho suave no cérebro com ultrassom de baixa intensidade”, disse Lord.

A capacidade de direcionar e alterar redes cerebrais abre a possibilidade de usar TFUS para terapêuticas de precisão, que são tratamentos médicos adaptados especificamente às características únicas de um indivíduo, como sua composição genética, estilo de vida e ambiente. TFUS também poderia ser potencialmente usado para tratar transtornos de humor como depressão e ansiedade, uma possibilidade que outros grupos de pesquisa estão explorando agora, disse Lord.

“Ao contrário das técnicas de neuroimagem, onde você só pode fazer correlações com a atividade cerebral, ferramentas de estimulação não invasivas como TFUS permitem que você sonde o cérebro e desenvolva modelos causais”, disse Lord. “Isso é algo realmente poderoso para todo o campo da neurociência.”



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